terça-feira, 9 de abril de 2013

António José Seguro, qual é a pressa?


Pedro Sousa Carvalho 
O líder do PS foi apanhado em excesso de velocidade. Desde que apresentou a moção de censura, que António José Seguro andava a conduzir os destinos do PS a alta velocidade e reclamando, de uma forma completamente extemporânea, eleições antecipadas.
O líder do PS foi apanhado em excesso de velocidade. Desde que apresentou a moção de censura, que António José Seguro andava a conduzir os destinos do PS a alta velocidade e reclamando, de uma forma completamente extemporânea, eleições antecipadas. Um cenário que nesta altura seria dramático para o País. Há quem diga que o regresso de José Sócrates levou Seguro a carregar no acelerador e a meter o turbo, não fosse o anterior primeiro-ministro querer de volta a sua cadeira no Largo do Rato. E Seguro esperava que a decisão do Tribunal Constitucional e a dramatização (excessiva, diga-se) feita por Passos Coelho lhe abrisse caminho para governar num cenário de ingovernabilidade. Mas foi obrigado a travar a fundo. É caso para perguntar, e parafraseando o próprio Seguro: Qual é a pressa? Qual é a pressa? Qual é a pressa?
No seu discurso feito ontem, a palavra "eleições" desapareceu completamente do vocabulário de António José Seguro. E acredito que não vai voltar a aparecer tão cedo.
António José Seguro tem de continuar a fazer o seu caminho como tem vindo a fazer: devagar, devagarinho, com responsabilidade e sem radicalismos. Mesmo sentindo-se desvinculado do memorando da ‘troika', o líder do maior partido da oposição tem a obrigação de não contribuir para atirar o País para uma situação de ingovernabilidade, como estamos a assistir em Itália. Até porque, mesmo após dois anos de austeridade de Passos Coelho, não existe uma única sondagem a darmaioria absoluta aos socialistas, o que é prova Seguro ainda tem muito caminho pela frente.
E António José Seguro deve fazer esse caminho sem pressas. Já conseguiu o que muitos pensavam que ele seria incapaz: encostar António Costa às boxes e, creio, rapidamente vai fazer o mesmo com José Sócrates que regressou com um discurso gasto e anacrónico.
Mas Seguro vai ter de encontrar um novo discurso para fazer oposição. E não é fácil fazer oposição num país sob protectorado. Durante muito tempo o líder do PS fez oposição com a bandeira da necessidade de a ‘troika' dar mais tempo para baixar o défice. E a ‘troika' deu. Seguro ficou desarmado. Depois insistiu na necessidade de Portugal ter mais tempo para pagar a dívida e juros mais baixos. E a ‘troika' vai dar. Depois mostrou-se contra mais impostos. E Passos veio dizer este fim-de-semana que não há mais subidas de impostos. E Seguro continua com o seu difícil exercício de mostrar que se chegar ao Governo é capaz de fazer diferente de Passos. Ontem voltou a apresentar, pela enésima vez, aquilo que começa a afigurar-se como o embrião de um programa eleitoral do PS: baixar IVA da restauração, criar um Banco de Fomento, usar dinheiro da ‘troika' para a banca para capitalizar as PME, lançar um plano de reabilitação urbana, aumentar o salário mínimo e apostar na requalificação de desempregados usando fundos comunitários.
O problema é que todas estas medidas dependem da boa vontade da ‘troika' e as únicas duas que não dependem (Banco de Fomento e reabilitação urbana), o Governo já as está a implementar.
António José Seguro, muito provavelmente, vai ser primeiro-ministro em 2015. Pela lógica da alternância democrática, pelo natural desgaste do Governo PSD/CDS e porque não há memória recente de nenhum governo na Europa que tenha implementado medidas de austeridade e que tenha conseguido renovar o mandato. Mas é preciso ir sem pressas para não descarrilar.
Diário Económico, 9-4-2013

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