sábado, 10 de agosto de 2013

O que se prepara

10/08/2013 - 00:00
Não tenciono comentar a impostura que por aí se chama "reforma do Estado" e que sempre começa com a redução das pensões dos reformados, porque é mais fácil e, com a possível excepção do CDS, não prejudica muito os partidos. Não se tocou, por exemplo, na administração local, porque a administração local continua a ser, para o PS e o PSD, uma base de recrutamento e a máquina indispensável para se financiar e ganhar eleições. Claro que o movimento da população para o litoral, o manifesto custo de 308 câmaras, na maior parte sem qualquer espécie de utilidade, e a megalomania dos políticos da província exigiam medidas drásticas. Mas como se iriam então aguentar as "concelhias" que são em Portugal a única e precária raiz dos partidos que formam e sustentam o regime vigente?
De qualquer maneira, a redução geral da despesa do Estado, que a troika impõe ou vai impor, implica uma revolução violenta nos costumes que se estabeleceram desde o "25 de Abril". O pagamento dos "militantes", que se fazia em "negócios", subsídios, num ocasional lugar no Parlamento e, sobretudo, em carreiras favorecidas na função pública, não consegue com certeza sobreviver ao desaparecimento dos dez mil milhões que gastávamos regularmente a mais. Mas ficam, em princípio, o programa e a ideologia de cada partido? Não ficam. Tirando o Bloco e o PC, que só valem para o protesto e o desabafo, nada de essencial distingue o PSD, o PS e o CDS. Há ainda, como é óbvio, o que numa nojenta metáfora futebolística os aficionados descrevem como "amor à camisola".

Só que nenhum "amor à camisola" resiste à derrota ou à decadência de um clube ou de um partido. Quando se perderem as vantagens da fidelidade ao PS e ao PSD, pouca gente os levará a sério. O futuro não está ou voltará a estar neles. Têm de se procurar outros caminhos para sair do desemprego (principalmente, quando se é "jovem") ou para não deslizar pouco a pouco para a miséria: a emigração, claro; a pequena empresa; o raríssimo lugar numa multinacional; ou a resignação ao trabalho precário, que tanto excitou neste Verão os srs. ministros. Seja como for, os partidos, que já ninguém estima ou leva a sério, acabaram no ar, sem uma verdadeira ligação à sociedade. O espectáculo da eleição para a Câmara do Porto é já um bom sintoma do que se prepara: o caos.

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